quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

O Anjo Ceifador - Parte II

O Anjo Ceifador

Parte II

garoto chegou em seu quarto, jogando seu material em cima da cama. Havia se esquecido do que tinha lhe acontecido há algumas horas atrás, pois somente aquela maldita prova tomava conta de sua cabeça. Seus pais já estavam demasiadamente preocupados e insatisfeitos com ele pelo fato dele ser homoafetivo. Iriam ficar ainda mais descontentes se o filho deles fracasse nos estudos e perdesse o ano na faculdade. Sem conseguir em pensar em mais nada começou a estudar. As horas se passaram e já eram 04h15 da madrugada. O sono começava a rondar, mas o menino não se dava por vencido. Mesmo embriagado pelo aroma doce da pele de Morpheu chamando-o para desposá-lo em uma noite de sono o garoto resistiu. O aroma do deus do bom sono deu lugar a uma nova e intrépida presença. Um vulto sagaz passou as suas costas quando se levantou e dirigiu até o guarda-roupas para pegar um moletom, pois sentia frio. Olhou para trás. Estava tudo normal... Ao menos ele pensava que estava.

Abriu o guarda-roupa do quarto e sentiu um presença maciça as suas costas. Seus pelos da nuca se eriçaram àquela presença. Não teve medo, apenas apreensão por um minuto. Lentamente se virou, com o moletom nas mãos. Viu a Criatura e lembrou-se exatamente daquela figura alta que naquela noite tentara contra sua vida. Desta vez ele estava de costas, com sua capa preta e sua foice reluzente em uma das mãos. Desta vez o jovem notou que aquele Ser era alado; longas asas de anjo pendiam em suas costas. Todavia, aquelas eram asas maltratadas e sujas. O garoto ficou olhando a Criatura por um instante. Ele parecia admirar as coisas em cima da cama, vários livros e apostilas e um caderno, com a caligrafia mal desenhada do garoto.

- Quem é você?

A voz do garoto cortou o silêncio no quarto. Não houve resposta. O Ser olhou para o jovem por cima dos ombros. Espantou-se por ver que o garoto não o temia. Todos o temiam quando o viam. Ficou intrigado, uma vez que para vê-lo não deveriam estar vivos. Aquele jovem era o grande problema daquela Criatura lúgubre. O encapuzado virou-se lentamente para sua vítima. Segurando a foice com as duas mãos tocou de leve a fronte do rapaz.

 Vi aquele ser atentar pela segunda vez naquela vida contra mim. Fechei meus olhos e esperei o que viria a seguir. Abri meus olhos um instante depois de sentir a foice em minha testa. Notei que não estava em meu quarto; o chão estava úmido e eu podia sentir a grama debaixo dos meus pés descalços. Olhei a minha volta e reconheci onde estava. Era um cemitério. Uma densa névoa tomava conta do local. Caminhei entre os túmulos a procura do Ser que inadvertidamente me trouxera para este local.

A luz do luar me guiou por entre as lápides até que pude avistar as grandes asas daquela estranha Criatura. Ele estava segurando a foice que repousava em seu peito. Sua face estava voltada para baixo e o capuz ocultava seu rosto.




- Quem é você? – perguntei pela segunda vez – Por que me trouxe aqui?! – quis saber eu, enfrentando o Ser.

Novamente o silêncio imperou entre nós. Ele parecia não querer falar. Eu tentei me aproxima daquele Ser alado, mas num piscar de olhos e ele estava mais na frente. Não estava mais gostando daquela brincadeira. O medo começava a tomar meu peito. Não medo de estar em um cemitério macabro no meio da madrugada, mas por não conseguir voltar para casa para estudar.

Corri entre os túmulos no meio da névoa densa. Avistei o que deduzi ser a capa negra, jazendo no chão. Olhei pros lados a procura do Ser que me trouxera até este local medonho. Uma silhueta estava desenhada em um túmulo. Fitei a tua cheia a minha frente e lá estava ele, encarrapitado em cima de uma enorme cruz de concreto. Suas asas reluziam a luz da lua e de alguma forma aquele Ser me encantava. Segurando a sua foice ele me olhava do alto, curioso. Ele me encarava como se não entendesse algo. Eu o encarava não entendendo por que estava ali. Por um segundo esqueci de perguntar... Simplesmente não conseguia parar de admirar aquela Criatura de traços masculinos.



Com impulso e um bater de asas ele pousou perto de mim. Meu corpo estava estático. Mesmo se tentasse não conseguiria me mover. O Ser foi diminuindo a distância entre nós; eu não o temia, mas meu corpo estava em choque. Senti frio. Ele estava há pouquíssimos centímetros do meu corpo e não conseguia mover nenhuma parte de mim, a não ser o meu coração, que batia acelerado. A figura alta, de cabelos mais pretos que o breu da noite, de pele mais alva que a face da lua naquela noite, se aproximou de mim. Eu estava totalmente a mercê de meu algoz e sentia-me plenamente. Ele diminui a distância entre nós... Pareceu-me que ele me beijaria. Eu queria isso. Todavia um sopro em minhas narinas ele deu. Senti uma excitação lancinante. Todas as células do meu corpo se agitaram...


O garoto acordou desesperado. Eram 16h30. Sua fatídica prova começaria em meia hora. Estava perdido. O medo e desespero tomaram conta dele. Saiu correndo do quarto. Sua mãe dormia profundamente sob efeito dos remédios. Não pensou duas vezes antes de fazer o que faria. Roubou o carro. Não tinha carteira de habilitação. Saiu dirigindo feito maluco pelas ruas e avenidas rumo a sua faculdade. Não podia perder aquela prova. Acelerou... 80... 90... 100... 120km/h. Cortava perigosamente por entre os carros. Sinal amarelo... Não daria tempo. Uma freada brusca. Um susto. Conseguiu parar em cima do carro a sua frente. Sinal verde. Continuou a acelerar. Já estava dentro da faculdade... Perdeu o controle da direção. O carro girou na avenida principal da universidade e bateu contra a parede da guarita de entrada. 16h55. Faltavam cinco minutos. Não pensou em nada. Faltava pouco para chegar lá. Ouviu um barulho estranho de ferro sendo rasgado. Não deu importância. Acelerou, manobrou e dirigiu até o local onde ia fazer a prova. Tentou frear, não conseguiu. O carro entrou abruptamente no corredor de entrada do bloco e parou. Um cheiro forte de gasolina. Pessoas assustadas com o barulho foram para a entrada ver o que acontecia. O motorista do carro estava ensanguentado... Uma faísca... Um explosão... Em poucos segundos o prédio inteiro foi consumido pelas chamas...”

A visão voltou. Lágrimas escorriam-lhe da face. Estava novamente em seu quarto. A Criatura desta vez segurava-lhe no colo. Pousou-o sutilmente na cama. Não conseguiria manter-se acordado por muito tempo; era impossível vencer aquela força que o induzia ao sono.

- Quem és tu...? – sussurrei baixinho, olhos semi-abertos.


“Tenho muitos nomes: Grim Reaper, Malach HaMavet, Thânatos, Yamaraja, Ange de La Mort, Filium Mors, Anjo do Sono Eterno, Filho do Fim... Mas para você meu doce rapaz, eu sou apenas o Anjo Ceifador!”

Ouvindo estas palavras, que eu sabia só estar ouvindo dentro da minha cabeça, adormeci.




POR


2 comentários:

  1. maneira essa historia tem a 3 ?

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  2. Olá... Que bom que você gostou! Tem sim. A parte 3 é a última parte deste conto...


    http://cristianchocolath.blogspot.com.br/2012/03/o-anjo-ceifador-parte-iii.html

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Obrigado.

Cristian Chocolath