quarta-feira, 3 de agosto de 2011

O Atraso...

Eu estava atrasado mais uma vez para aula. Minha mochila estava pesada. Eram 14h15 da tarde e não chegaria à faculdade antes das 15 horas. Minhas costas doíam e algo estranho me angustiava. O trânsito me deixava mais ansioso ainda. Já tinham se passado mais quinze minutos e eu estava a cada segundo mais atrasado. Cheguei ao centro da cidade. Faltava apenas mais um ônibus. Cheguei ao ponto e dei a sorte de encontrar o ônibus parado. O ônibus estava lotado e eu tive muita dificuldade em chegar ao fundo do ônibus. A parte detrás era feita de vidro e permitia ver todos os carros atrás do ônibus. Eu gostava desses ônibus com vidro na parede inferior. Gostava de ver os carros que vinham logo atrás do ônibus. Agora eram 14h30. Estava na metade do caminho. Uma das mulheres se incomodou comigo, pois eu estava olhando para o vidro logo atrás da sua cabeça e ela devia estar pensando que eu estava olhando para seu generoso e farto decote. Nos fundos do ônibus haviam cinco pessoas sentadas. Um senhor de idade, uma senhora de meia idade, a mulher de seios fartos uma jovem com um garotinho de uns dois anos no colo e seu esposo do lado. Vê-los me chamou atenção. Revirou a minha ânsia em ser pai. O homem, o pai do garotinho, brincava com o filho no colo da esposa. Os três estavam comendo algodão-doce e o molequinho estava com a boca toda suja e babada do açúcar derretido. Desviei minha atenção desta cena, rindo discretamente, voltando a olhar para o vidro. Eu estava na direção da porta dos fundos. O ônibus extremamente lotado. Não via quem estava do meu lado. Só conseguia prestar atenção naqueles cinco passageiros que ocupavam os bancos dos fundos. Ou melhor, cinco e meio. Pensei eu ao constatar que o pequeno garoto também contava. Senti um empurrão, alguém reclamou e só vi a mulher que havia me xingado mostrando-me o dedo do meio pelo vidro da porta. Olhei para ela do vidro dos fundos. Parecia reclamar ainda. Ri declaradamente da situação. O ônibus embalou pela avenida abaixo e os carros o ultrapassavam rapidamente. Uma freada brusca e o barulho de uma batida. O ônibus parou a tempo de não engavetar com mais três carros que frearam a tempo de não colidirem com os dois carros logo à frente. Todos os passageiros ergueram as cabeças para ver o que tinha acontecido. Todos, menos eu. Continuei a olhar pelo vidro traseiro. Ali estava o motivo de minha angústia: um caminhão se aproximava rapidamente para perto do ônibus. O pior estava por vir. Recuei rapidamente à medida que o caminhão empurrava com brutalidade a traseira do ônibus, esmagando o senhor, a senhora, a moça, a mãe, o pai e o filhinho. Todos os passageiros foram arremessados com força para frente. Eu fui jogado ao chão. Os bancos e a porta dos fundos já não existiam. O senhor e a senhora estavam presos entre as ferragens, a moça de seios fartos estava com a face enterrada no chão de alumínio ao qual ela encharcava com seu sangue. A mãe, o pai e o garotinho... Era a cena mais terrível: estavam abraçados na tentativa de proteger-se daquele primeiro acidente, sem terem previsto que seriam atingidos pelas costas. O pai tinha um profundo corte na cabeça abraçando a esposa por trás; a mãe estava com os cabelos empapados em sangue, agarrada ao corpinho infantil de seu pobre garotinho entre as ferragens; a cabeçinha separada do corpo estava há apenas dez centímetros do local onde eu tinha caído, em choque. Eram 14h43. Eu não chegaria à faculdade naquele dia...

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Cristian Chocolath