Estrela Cadente
Era noite e o céu estava negro, nebuloso e com uma lua cheia muito brilhante. Um homem alto, de pele clara e porte atlético deixou o carro no estacionamento do aeroporto. Fazia frio na cidade e o homem estava trajando um suéter azul marinho e jeans; estava atrasado. Há esse instante a sua ex-esposa deveria estar fazendo o chek-in para o embarque e com certeza já estaria enraivecida com o atraso.
- Desculpe-me pelo atraso – disse ele sinceramente.
- Não por isso, pontualidade nunca foi seu ponto forte, não é?! – perguntou ela hostil e ironicamente.
A mulher era apenas um palmo mais baixa que o homem, trajava um longo sobretudo cor de marfim por cima dos trajes social, que davam a ela uma elegância descomunal, aliada a sua beleza natural. Seus cabelos eram longos, castanhos e ondulados, sua pele clara e olhos claros acastanhados. Um garotinho de seis anos de idade, face angelical e semblante melancólico surgiu na cena, lágrimas escorrendo sua face infantil. Sua mãe abaixou-se e sutilmente lhe enxugou as lágrimas.
- Não chores meu anjo. Eu volto daqui a duas semanas... – disse, com toda ternura que uma mãe pode dedicar a um filho.
- Mas eu não quero que você vá embora, mamãe! – interpelou o menininho, em tom de súplica; no seu rosto mais lágrimas voltaram a rolar, ele estava enrubescido, mostrando que estava chorando já há algum tempo.
- Meu filho, a mamãe está indo, mas eu volto. Eu prometo que mesmo longe sempre estarei contigo... Aqui, ó! – disse colocando a palma da sua mão direita sob o coração do filho – E você sempre vai estar aqui também. – disse afetuosamente, com a mão esquerda sob seu próprio coração.
O menininho começou a chorar mais intensamente. A mulher o apertou em seus braços. O garotinho, ainda com ar choroso, se desvencilhou do abraço da mãe e volveu-se para seu pai.
- Papai! Por favor, diz para a mamãe ficar... Diz para ela não nos abandonar. Fala para ela ficar aqui com a gente, por favor! – suplicou ele, vozinha embargada de criança que estava prestes a se distanciar daquela que mais amava na vida.
O coração do homem e da mulher ser entrecortaram; ficaram se olhando por alguns segundos, sem saberem o que fazer ou dizer. O homem apenas se abaixou ficando no nível dos olhos do filho, abraçou-o gentilmente, sentando em sua perna esquerda.
- Campeão, a mamãe só vai ficar longe duas semanas. Não é pra sempre! E olha, a gente vai se divertir muito juntos... – disse o homem, pondo-se de pé com o filho nos braços.
Uma voz feminina anunciou o embarque para um vôo para um país no exterior. A mulher secou o rosto molhado, agora ela estava tão corada quanto o filho. O homem se aproximou da mãe de seu filho; ela acariciou a face do garotinho.
- Se comporte bem, meu anjo! - disse ao filho – E você, cuide bem dele, por favor... – falou, se referindo ao homem.
O homem, repentinamente abraçou a mulher, puxando-a para perto de si com o braço livre. Por um momento, uma vez mais, pai, mãe e filho pareciam novamente uma família. Uma família feliz, para quem passava e contemplava a cena dos três abraçados no meio do saguão. A voz feminina voltou a ecoar pelo local anunciando o embarque. Mulher afastou-se do seu ex-marido, pôs-se na ponta dos pés para dar um beijo na face do filho.
- Adeus mamãe! Eu te amo... – uma lágrima, triste e solitária escorregou devagarzinho pela face angelical daquele menininho.
A mulher de longos cabelos ondulados não mais resistia ao choro e até mesmo o homem de porte atlético tinha lágrimas rolando pelo olhar. A mãe beijou a mãozinha do filho, piscou amorosamente para ele e por último afagou o ombro do pai e o olhou nos olhos terna e respeitosamente.
Logo, mãe e filho não estavam mais juntos; o avião partiu e os dois, adulto e criança, viram-no decolar, levando consigo a sua amada; rumaram para o estacionamento em direção ao carro. O garotinho, ainda nos braços do pai, fitou o céu nublado e apontou para um objeto luminoso no firmamento.
- Papai, olhe! Uma estrela cadente. – disse o menininho.
- Faça um pedido, filho. – respondeu o pai, sem olhar para o céu.
O garoto fechou os olhos tão fortemente, que deles caíram duas lágrimas que ali tinham se escondido, e sussurrando baixinho pediu suplicante com toda intensidade e sinceridade que pode haver no coração de uma criança.
- Eu desejo que a mamãe não sinta dor ao ir pro céu!
O homem, ao ouvir o pedido do filho, se abalou, virou-se imediatamente e contemplou o grande objeto em chamas cortando o céu escuro, deixando atrás de sua bola incandescente um rastro acinzentado de fumaça. Instintivamente o pai pôs o filho no chão e envolveu-o fortemente em seus braços, transformando o próprio corpo um escudo. Um grande estrondo ecoou quando o objeto colidiu com o solo, não tão longe dali. O homem começou a chorar. Podiam ouvir o rugido alto e aterrador das chamas. O pai ainda abraçava forte o seu filho; chorava compulsivamente, feito criança. Uma série de pequenas explosões era ouvida. O garotinho repeliu o pai alguns centímetros e olhou a face molhada do homem; algumas lágrimas também lhe escorrendo dos olhos.
- Papai... – disse ele, colocando suas mãozinhas infantis no rosto do pai – A mamãe vai ficar bem... – disse, gentilmente – E nós também...
E abraçados ficaram ali por mais algum tempo, ouvindo barulho das sirenes, do crepitar das labaredas e do burburinho da multidão que agora se formara no estacionamento.
Escrito em 6 de Fevereiro de 2011 por
PS:. Dedico esse post a uma pessoinha muito especial: Carol Borges. Muito obrigado por tudo, mour! *-*
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Amigo que testo lindooo...
ResponderExcluirso podia vir de vc neh? amei mto bem escrito otima historia confesso que me emocionei! me orgulho mto de vc! vc é mto especial pra mim!
bjusss amigo sucesso sempre!!!!!
Acho que às vezes as hitórias são dolorosas, como a vida real, aliás.
ResponderExcluirGostei da delicadeza com a qual você escreve; mesmo sendo apenas "um homem, uma mulher e uma criança", tão genéricos, podemos sentir, pelo seu texto a emoção por eles sentidas.
Não acho que seja um lado "negro" seu, mas sim um lado realista que, como já havia dito no início, quase sempre vem acompanhado pelo sofrimento e pelas ironias cruéis do destino.
Um grande beijo,
Lu