terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O Garoto e o Menino

Fazia um mês que eles já estavam conversando pela internet, quando finalmente chegaram o dia deles se conhecerem. Paul preparou um jantar para o jovem amigo. A campainha soou e Doroty, a velha vizinha do apartamento da frente, abriu a porta para o menino entrar. John ficou estupefato. Não esperava ver uma senhora de uns 70 anos lhe recepcionando. Paul apareceu no portal de entrada ao lado de Doroty, que tinha no rosto um sorriso jovial e faceiro.

John era um menino alto para sua idade, magro e com uma carinha de menino sapeca. Paul, apesar de apenas duas décadas de vida, parecia um garoto muito mais maduro, e um tanto maltratado pelas marcas da vida. Os três jantaram juntos, riram e se divertiram juntos. Quando terminaram o jantar, as panelas deram lugar a livros e papéis e canetas. Doroty e Paul iriam ajudar o menino John com um ensaio sobre um autor literário que os três amavam. Empolgaram-se tanto na conversa sobre seu autor favorito que se perderam nas horas e já era madrugada. Doroty se recolheu ao seu aposento, despedindo-se de John e Paul, dando-lhes um beijo terno na testa. Paul pegou seu casaco e as chaves do carro; solicitou ao menino que arrumasse suas coisas que o levaria para casa. Já era madrugada. John resmungou algo inaudível, que soou como uma negação ao pedido do garoto de casaco a sua frente.

O menino tirou suas roupas de dormir da mochila e também arrancou um PS2 de lá de dentro. Alegou que estava tudo certo e que ele poderia dormir lá. O garoto, a contragosto, tirou o casaco e devolveu as chaves ao balcão. O menino entregou o vídeo-game ao mais velho e disse para ele ir instalando-o na TV. Assim o fez. Estava atônito, aflito. Já podia vislumbrar o que aconteceria a seguir. O menino entrou na sala, pele clara, abdome magro e desnudo e somente uma cueca branca, tapando a sua vergonha. Paul desviou o olhar e se concentrou na tela. John riu-se da cena, do amigo encabulado.

- Eu já disse que era assim que eu dormia – sussurrou o mais novo, com um quê de malícia na voz.

Jogaram PS2 madrugada a fora, enquanto conversavam sobre de tudo um pouco. Quando o sono veio, enquanto assistiam um filme na TV, o menino repousou a cabeça no ombro do garoto amigo. Dormiram juntos no chão da sala e o que aconteceu dali em diante ficaria registrado para sempre na memória dos dois. Na manhã seguinte John acordou, estava nu, exceto pelo edredom que cobria seu corpo. Paul não estava no apartamento. O menino levantou-se, um ar leve e feliz transpassando-lhe os lábios. Tomou banho, vestiu sua roupa e juntou o material do ensaio sobre o autor. Ficou triste por não poder despedir-se do amigo.

Mais tarde naquele dia, John voltou ao apartamento de Paul para buscar seu vídeo-game que havia deixado. Bateu na porta e chamou pelo amigo. Nada aconteceu. Quando bateu pela segunda vez, a porta as suas costas abriu e a uma senhora apareceu.

- Ele não está ai. – disse Doroty, carinhosamente, carregando algo nas mãos. – Ele não vai voltar. Pediu para lhe devolver isto. – a velha e bondosa senhora deu alguns passos na direção do garoto e entregou-lhe o embrulho.

Era o vídeo-game, com uma carta em cima. O menino chorou ao terminar de lê-la:

“Querido John.
Você foi a melhor e mais intensa pessoa que eu jamais sonhei em encontrar na minha vida. Desculpe-me por não me despedir. Agradeço pelo mais belo presente que me deste na última noite, mas não posso estar ao seu lado e conviver com o peso na consciência do crime que cometi contra ti.

Sinto muitíssimo.

Com Amor,

Paul.”



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Um comentário:

  1. Eu amei!!!! Com certeza vou guardar essa linda história para sempre! Vou mostrar para os meus amigos...

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Obrigado.

Cristian Chocolath