Breve História de um
Jovem Interessado
Um olhar... Um gesto... O início de algo a mais? Não sei, mas, desde o início, ele, mesmo sem saber, tomou para si minha atenção... Os dias passam e essa sensação em mim só cresce. Noite passada ele gentilmente me visitou em um delírio onírico. Não me recordo ao certo do que aconteceu em sonho, mas sei que era ele e que estávamos juntos. Não sei explicar muito bem o porquê, mas aquele sorriso me cativa cada vez mais e a cada cumprimento que ele me profere, fico mais estonteantemente interessado.
Tudo começou quando aquele nobre cavalheiro passou a me cumprimentar pelos corredores e aonde quer que nos encontrássemos dentro da academia em que ambos somos universitários. Eu não entendia ao certo, e confesso que ainda não entendo muito bem, o motivo de uma pessoa cumprimentar outra que lhe é completamente estranha... Eu, como bom gentil-homem que sou, sempre o cumprimentava em resposta. Confesso ainda, que outrora ele não me chamaria à atenção, embora isso tenha mudado drasticamente depois de tudo que aconteceu.
A cena se repetia constantemente pelo campus. Era só nos encontrarmos no mesmo ambiente e ele diminuir a distância entre nós dois para que me cumprimentasse... Não sei, mas aquele sorriso, a calma e o humor que ele transmite, me tornaram cativo do meu interesse. De fato, estou refém desse meu quase querer-gostar. Fico inseguro, afinal, não sei ao certo se tudo isso é verdade ou se não passa de mera especulação imaginativa da minha parte. Isso me angustia. A primeira vez que dirigi a palavra a ele, grotescamente acabei fazendo um comentário tosco sobre talheres
Depois disso, meu desejo de dirigir-lhe a palavra novamente só foi aumentando, entrementes, o fato dele sempre estar acompanhado pelo campus quebrava minha coragem e todas minhas expectativas em mil pedaços. Resolvi então, redigir uma missiva, como esta que estou a escrever agora; estava decidido a encarar meu jovem-estranho-interessante-destinatário e entregar-lhe a correspondência.
Preparei-me. Suei frio, entrego. Não sou do tipo que se arrisca dessa maneira, mas meus projetos de tentativas estavam sendo frustrados pelo destino. Quase desisti, mas preferi insistir um pouco mais. Voltando ao assunto: sempre jantávamos no mesmo horário no restaurante universitário e naquele dia, especificamente, saímos juntos, digo, ele com o amigo dele e eu com os meus. Entrei decidido a cumprir minha missão suicidamente kamikaze (perdoe-me se errei na grafia), mas sentia que precisava assumir as rédeas da situação ou esquecer de vez essa história...
Naquela quinta-feira, fiz a refeição mais rápida desde que entrei na universidade. Estava ansioso pelo que estava prestes a fazer e mal consegui comer direito naquele jantar. Terminei minha refeição, despedi dos meus amigos, pedindo que não me esperassem e esperei até que ele terminasse a refeição dele e saísse do recinto. Posicionei-me num lugar que sabia que ele iria, impreterivelmente, passar por mim. Era o plano perfeito: ele passaria por mim, eu o abordaria, conversaria com ele e entregaria a carta. Corrigindo: quase-perfeito. Senão fosse o pequeno grande detalhe que mudou todo o rumo dessa missão. Ele vinha passando pelo corredor, estava desacompanhado dessa vez (os amigos que estavam com ele tinham passado por mim instantes antes, garantindo a minha certeza de que ele passaria por mim, sozinho); a ocasião era a ideal, a melhor que eu já tivera desde que tudo isso começou. Eu estava sentado registrando com meus olhos cada milésimo daquele instante; ao passar por mim, me cumprimentou, como de costume. O sorriso lindo, aberto... Radiante. Eu fiquei desconcertado. Meu sistema nervoso central entrou em pane. Entrei no piloto automático: apenas respondi ao cumprimento em quanto ele passava... Passava e se ia embora... Conscientemente pensava “levanta daí e vai falar com ele”, entretanto algo maior me dominara naquele instante, impedindo que realizasse meu intento. Obra do meu maligno e covarde inconsciente? Talvez. O vi passar por mim, sem fazer mais nada além de segui-lo com o olhar, até perdê-lo de vista... Pouco antes disso acontecer, para minha surpresa, ele olhou para trás (seria muita pretensão dizer que ele olhou pra mim, mas ele de fato olhou para trás...).
Fiquei ali, sentado, refletindo e me martirizando por alguns segundos. Levantei-me e fui para aula. Até o exato instante não sei as causas do incidente que me fez abortar a missão; foi como perder a bola, na cara do gol, em dia de final de campeonato... Confesso que estou frustrado comigo mesmo, mas não me condeno por isso. Sou humano, sou falho e não posso me responsabilizar por coisas que estão muito acima do meu reles controle psicoemocional... Não sei quando e nem se vou voltar a ter outra chance igual a que tive, mas de uma coisa eu sei: não vou desistir tão fácil assim...
Posso quebrar a cara, mas não vou desistir do nobre e gentil rapaz que me cativou com seus freqüentes cumprimentos...
“Por mais que tenha dúvidas, nunca deixe de acreditar em si mesmo”
Autor desconhecido
“Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o bem que poderíamos conquistar se não fosse o medo de tentar”
William Shakeaspeare
Esta história continua num próximo post...
Escrito em Agosto de 2010
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Cristian Chocolath