Breve História de um Jovem Interessado
O Desfecho de um Recomeço – Parte 3
Minha decisão de tentar esquecê-lo, não o encarando e nem o cumprimentando mais, estava sendo ineficaz. Ele ainda mexe comigo. Ainda tem a capacidade de suscitar angústias. Será que ainda gosto dele? Talvez. Não com a mesma empolgação de outrora, mas com o pesar de algo que poderia ser muito bom... Mas não foi...
Ele estava ciente, pois pessoalmente disse a ele que estava sendo difícil lidar com a situação de ter que cumprimentá-lo, mesmo ainda sentindo algo por ele. Ele disse para eu fazer o que achasse melhor. Assim o fiz. Julguei que o melhor para mim mesmo era evitar pensar nele, olhar para ele e estar perto dele... Meu erro, minha perdição. Esqueci que havia vários elementos que simplesmente estavam muito além da minha capacidade de controlar. Primeiro, que nós dois temos um ambiente de estudo que é impossível de se mudar. Não estaria no direito de simplesmente pedir para ele parar de cursar as disciplinas do meu curso só para atender ao meu ensejo de não ter que cruzar com ele pelos corredores do bloco. Segundo, eu também não iria abrir mão disso para tentar esquecê-lo. Teria que aprender a lidar com a situação de vê-lo esporadicamente pelos corredores.
Um dia desses, estava brincando com uma amiga minha no corredor, estava envolvendo-a num abraço. Ele passou e olhou para nós dois. Não foi imaginação da minha cabeça; ela também notou. Outro dia eu cheguei na faculdade, feliz e descontraído. Topei com ele assim que pus meus pés no saguão do primeiro bloco na entrada; fiquei desnorteado que até mudei de rumo, desviando da minha rota original para não ter que passar por ele. Teve um dia em que nossas aulas acabaram simultaneamente. Todo mundo saiu, e eu sabia que ele iria jantar. Adiei a minha ida pro restaurante universitário na esperança de não vê-lo por lá. Passei uma hora jogando UNO com os calouros e quando fui jantar, para minha surpresa, a espera tinha sido em vão, pois ele ainda estava lá. Sempre que o avistava pela faculdade, evitava encará-lo, embora o destino sempre me fizesse cruzar com ele pelo campus.
Mediante a esses e outros pequenos acontecimentos percebi que a evitação não estava sendo a melhor das estratégias para esquecê-lo. Parei de evitá-lo. Recentemente, quando estava jantando, ele adentrou o recinto e eu estava olhando justamente para a porta; em outros tempos teria olhado para outro lado e evitado olhar para ele. Entretanto, dessa vez continuei olhando para a porta, consequentemente, para ele. Ele passou por mim em minha mesa e me cumprimentou; eu, insensivelmente – eu diria – continuei olhando em direção a porta, como se ele não tivesse passado por mim e me cumprimentado. Não me senti muito confortável depois disso. Não é do meu feitio fazer esse tipo de coisas, ignorar as pessoas...
Confesso que todos esses dias me fez amadurecer em relação aos meus sentimentos. Aprendi a lidar melhor com o inevitável. Certa vez estava na sala dos meus calouros, quando do nada ele entrou na sala. Ele olhou para mim e eu olhei para ele. Durou apenas dois segundos, mas foi o bastante para provar que eu consegui estar na mesma sala que ele sem me incomodar tanto com sua presença. Entretanto, isso não acontece sempre. Outro dia, estava na frente do restaurante universitário esperando um amigo, lendo um livro, quando ele passou; nesse dia a presença dele me desconcertou completamente. Não consegui mais ler, nem conter a impaciência, que se demonstravam na inquietude do meu corpo sobre o banco de concreto.
No dia seguinte, assim que cheguei para uma prova a qual não tinha estudado, o vi. Não me senti incomodado, ao ponto de sentar-me no banco paralelo ao dele. Estava criando coragem para enfrentar a prova, certo do meu insucesso. Enquanto isso eu conversava com alguns colegas. Foi quando me incumbiram de passar uma lista para alguém da roda de conversa dele, que me vi num dilema. Durou um segundo. Segundo este onde me degladiei pensando em declinar o pedido ou aceitar o serviço, sendo forçado a encará-lo, de muito perto. No início foi fácil, estava falando sobre a lista que teria que correr na sala dos calouros, quando uma das calouras na roda me interrompeu, dizendo que eu devia cumprimentá-las antes de pedir alguma coisa. Foi inusitado; cumprimentei uma a uma das quatro garotas na roda e disse um “oi” para ele, para não soar mal-educado, cumprimentar todo mundo e simplesmente ignorá-lo. Dado o recado e entregue a lista, não quis prolongar o contato. Me despedi das meninas e fui encarar a prova, que não estava tão difícil assim.
Na noite de ontem escrevi uma canção, colocando o que eu sentia para fora. Eu acho que está era a dose de realidade que eu precisava exprimir em letras de uma composição no papel. Fico muito mais aliviado quando me livro das minhas angustias, numa folha de papel. Estou melhor hoje e creio que semana que vem estarei bem melhor ainda... Não sei se algum dia eu levarei estes últimos escritos a conhecimento dele; não sei, talvez. Mas por hora sinto que escrever tudo isso só me ajudou a repensar tudo que aconteceu e perceber que virar a página é preciso.
Talvez eu volte cumprimentá-lo novamente na semana que vem e talvez fossemos conversar, algo trivial, quem sabe. Não tem mais porque me prender nessa história. Não sei por que demorei tanto para tomar a postura de algo que eu já estava consciente há tempos...
Eu sei que aprendi bastante com isso tudo e sei que ainda há muito que aprender... Só não posso me esquecer daquilo que sempre me ensinou a ser o melhor de mim a cada dia.
“Se veres que teus esforços não são reconhecidos, não te desanimes; pois o Sol ao nascer dá um de seus mais belo espetáculo e encontra a maior parte da platéia dormindo” Autor Desconhecido
Escrito em Outubro de 2010
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Cristian Chocolath