segunda-feira, 7 de março de 2011

O Garoto Que Não Queria Escolher

O Garoto Que Não Queria Escolher


Era uma vez um garotinho. Mas não era um garoto qualquer. Era um daqueles que não queria escolher. Se a mãe perguntava se ele queria o suéter vermelho ou o azul a resposta dele era tanto faz. Se posto numa situação que teria que escolher entre dois amores, ele se contrariava e escolhia nenhum. Se solicitado a escolher entre duas opções possíveis, ele sempre arranjava uma maneira marota de criar a sua terceira.

E assim o garotinho cresceu, na sua sina de não escolher. Tudo corria bem na sua vidinha de não escolhas até o dia que ele conheceu um cara chato e insistente. O cara em questão também era bonito e inteligente. Usando de toda a sua lábia de argumentação eloqüente, ele tentou dizer ao garoto que não queria escolher que não escolher já era em si uma escolha e que a ele e nem a ninguém tinha o pleno direito de “não escolher” de fato. Mas o garoto era teimoso, indômito e mil vezes mais insistente. Bateu o pé que ele não escolhia, e que não escolher não era uma escolha, e ponto. Não gostava de contradição. Ele sempre preferiu a negação...

Não houve cara bonito e inteligente, nem Cristo, nem Sartre, Rogers, Freud, Kant, Lacan ou Foucault que fizesse o garoto admitir que “não escolher” é uma escolha! Mesmo esmiuçando, detalhando e até quase que desenhando o cara não conseguiu persuadir o garoto do contrário. Ficou na negação. Não escolhia, mesmo sabendo que isso implicava em várias conseqüências contra ele próprio. Bem como no dia que não escolheu a cor do suéter e depois não gostou; quando não escolheu entre nenhum dos dois amores disponíveis e se sentiu amargurado e sozinho; e quando por conseqüência de suas terceiras escolhas, notou que as anteriores eram as mais corretas...

E assim o garoto que não queria escolher foi vivendo a sua vida de (pseudo) “não escolhas” sozinho... Bem, não tão sozinho... Ele ainda haveria de encontrar muitos caras chatos, insistentes, bonitos e inteligentes pelo seu caminho...


Para J.R., com chatice e carinhos... rsrs


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Cristian Chocolath