Capítulo I
LSD – Laranjas Suicidas Descascam-se
É engraçado o jeito que essa história começou. Bem, na verdade é você quem vai ter que decidir quando ela realmente começa. Eu não entendo porque os seres humanos precisam tanto demarcar onde começam e terminam as coisas. A propósito meu nome é Michel...
Já faz mais ou menos dois meses que estou “hospedado” neste lugar. Não é nenhum hotel cinco estrelas, mas depois que você se acostuma acaba se tornando um lugar legal. Bem... legal não é a palavra certa. Coisas não tão bacanas acontecem aqui. Mas eu aprendi nesses meus quase vinte anos de vida que devemos saber ver o lado positivo da vida, mesmo nas piores e mais horríveis coisas...Dois Meses Antes
- Não mãe, eu juro, por favor, não!
A mulher a qual o adolescente chamava de mãe debulhava-se em lágrimas, entre soluços. Um homem negro e viril a aconchegava nos braços, como uma fortaleza.
- Pai, pelo amor de Deus, eu juro que não faço mais isso... Por favor, não deixem eles me levarem...
O garoto estava fortemente amarrado na maca, fitando os pais que conduziam a meio metro os dois homens que levavam o jovem para a ambulância. Os dois homens vestidos de branco levantaram a maca e empurraram para dentro.
- Não, não. NÃO! PAPAI... MAMÃE... POR FAVOR, NÃO!
O garoto gritou, ficou rouco. Arfou, sua respiração estava ofegante. As portas da ambulância fecharam-se e ele ouviu o soluço e o choro da mãe antes de ser emerso na meia luz do interior daquele automóvel. O teto da ambulância foi se transfigurando aos poucos. Ele sentia que seria a última vez que experimentaria aquela deliciosa sensação.
Era uma mangueira frondosa à beira de um riacho que ladeava a ilhota, onde a árvore era a única e reinava imponente; entretanto, aquela árvore não dava mangas, mas sim laranjas. O céu naquela ilha era rubro e cintilante, com muitas nuvens púrpuras. Ele caminhou ilhota acima, rumo ao pé de “larangueira”. Seu corpo estava pesado, atado. Parecia que estava à mercê dum feitiço de corpo-preso. Ele riu. Queria ser um bruxo e ter uma varinha. Com magia resolveria todos seus problemas. Devagarzinho chegou ao pé da “larangueira” que estava carregada de laranjas. Ele estava com fome e sede. Daria tudo por uma suculenta e doce laranja e aquelas pareciam muito gostosas. Havia centenas delas, mas estava fora do alcance do jovem, uma vez que ele estava com os braços colados ao corpo. De repente começaram a cair. O menino se jogou no chão na tentativa de pegar uma. As laranjas caiam, maduras e rolavam ilha abaixo. O garoto tentou interpelar, mas elas continuaram rolando... Curiosamente, as frutas se auto-descascavam, deixando suas vestes pelo caminho. No precipício do barranco da ilha, ao invés de estacionarem, uma a uma, continuavam rolando, se entregando ao doce pulo de suicídio rumo ao fundo do rio, que as levavam boiando por um tempo, antes de afundarem... Depois disso, um pedaço velho de jornal voou para perto do garoto, onde ele conseguiu ler a principal manchete: Laranjas Suicidas Descascam-se. Seus olhos pesaram tanto que ele não suportou: entregou-se à imensidão de si mesmo, desejando que lhe devolvessem a vida...
Música Tema: Bring Me To Life - Evanescence
Ae eu adorei, é bem criativa, e um pouco realista tbm.... Estou esperando os próximos capítulos :)
ResponderExcluirmuito legal! parabens choco!
ResponderExcluir... gostei do começo
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