Capítulo IV
Entre as Árvores
- AHHHHHHHHHH!!! – o gritou ecoou pela ala leste daquele lugar. Sophia estava numa sala, observando, por trás do vidro, o jovem que estava deitado, abdome desnudo, em cima de uma estranha mesa, que estava inclinada uns noventa graus.
- Michel! Me escute... Já estamos terminando, agüente firme...
Seu corpo vibrava há cada eletro-choque que sentia transpassar pelas suas células, maximizando a metanfetamina que circulava em suas veias. Seus punhos fortemente fechados, seus dentes cerrados, seu corpo molhado de suor. Tentava a todo custo resistir ao sono profundo que lhe acometia. Tinha que ficar acordado, embora as dores afligidas ao seu corpo lhe fizessem ficar inconsciente. Não conseguiu. Cedeu.
O caminhão de mudanças havia acabado de sair da casa vizinha. Seus ocupantes estavam entrando no carro para sair e nunca mais voltar para aquele lugar. Era muito cedo e o sol tinha acabado de iluminar a rua. Quatro pessoas embarcaram no carro, todos sonolentos, à exceção do motorista e chefe da família.
O coração do garoto chegou aos 185 batimentos por minuto. Seu metabolismo estava altamente acelerado. Sophia, que acompanhava pelo vidro atrás da sala onde o garoto estava ordenou que parassem o procedimento. O jovem estava entrando em colapso. Estavam perdendo-o. A jovem doutora correu para a maca onde o garoto estava. Adentrou a sala e os batimentos cardíacos tinham caído bruscamente. Ela pegou as pás do desfibrilador. Um zunido irrompeu pela sala...
O ronco do motor do carro fez um garoto, vizinho daqueles que estava partindo, acordar. Ficou exasperado. Olhou pela janela do seu quarto e viu a cena. O filho dos vizinhos fitou do carro na direção da janela do garoto, melancólico. O jovem desceu as escadas pulando de três em três degraus Chegou à rua e o carro havia saído naquele momento. Perseguiu o carro, em vão.
Não obteve resposta. O garoto continuava sem batimento cardíaco. Não estava respirando. Notou que a temperatura do paciente tinha caído rapidamente. Carregou as pás numa potência mais alta.
- Michel... Não desista garoto... Por favor... Por favor, resista... – disse Sophia, suplicante...
Correu na direção oposta, contornou a própria casa e pegou sua bike. Desesperado, ganhou a rua, pedalando o mais rápido que conseguia. O carro sumiu no final da rua, não iria alcançá-los. Subitamente, lembrou que para saírem da cidade teriam que pegar a estrada que ficava numa das saídas do bairro e que para alcançá-los teria que cortar caminho se embrenhando na mata. Não pensou duas vezes, pedalou até o final da rua onde o carro tinha sumido e depois que as casas tinham ficado para trás, entrou no mato espesso, desviando a bike entre as árvores...
A segunda tentativa também havia sido frustrada. A médica checou, o menino não estava respirando e começava a sangrar pelo nariz. Ficou nervosa, não podia deixar aquele paciente perecer em suas mãos. Tomou uma decisão radical. Virou o garoto, deixando-o de lado, com suas costas a mostra para a doutora. Um enorme inchaço tomava as costas do garoto, na altura do coração. Ela pegou um bisturi; respirou fundo e mentalmente traçou a linha onde deveria incidir o corte.
Seus pés doíam de tanto pedalar e estava todo arranhado da densa vegetação rasteira que tinha naquela floresta. Pedalou durante quinze minutos, quando finalmente avistou a estrada. Teria chegado a tempo? Iria conseguir? Seu coração acelerou tanto que parecia que iria explodir. Sua respiração cessou tamanha a ansiedade. Desceu a encosta há poucos metros da estrada e só precisava subir o barranco. Pedalou com mais vigor que antes e quando estava prestes a subir rumo à estrada, sua bike bateu com o pneu dianteiro em uma pedra, fazendo o garoto perder o equilíbrio e ser arremessado de encontro ao asfalto. Caiu de barriga no chão. Gemendo de dor, virou-se. Contemplou o céu azul, limpo e lindo, entre as árvores que ladeavam a estrada. O tempo fazia pilhéria da sua desgraça. Sentiu um líquido quente escorrer pelas narinas, havia quebrado o nariz. Os sentidos se esvaiam pouco a pouco e antes que desmaiasse só conseguiu dizer mais uma palavra.
- Caiel... – chamou baixinho; tinha perdido seu melhor amigo, mas sentia como se estivesse perdendo a vida...
Continua...
Música tema: Through the Trees - Low Shoulder
sem palavras! vc é simplesmente um cara de muito talento, pela primeira vez (e sem hipocrisia) me emocionei lendo algo, ja lí muitos livros, mas essa sua historia é realmente emocionante, apesar de eu te achar um fdp em parar a historia na melhor parte ¬¬ hehe zuera, mas continue escrevendo, vc conseguiu mais um fã!
ResponderExcluir