Capítulo V
Funeral
Sophia fez um corte de aproximadamente uns 15 centímetros e com isso a maca ficou suja de sangue, que não parava de jorrar das costas do menino. Aos poucos, o sangue diminuiu e através do corte surgiu uma estranha estrutura óssea.
- Como está a tabula aeris? – falou uma voz hostil que ecoou pela sala.
- Está intacta, senhor, mas ainda há risco de infecção pela exposição prematura. Peço permissão para fechá-la novamente... – interpelou, olhando para o espelho a sua frente.
- Não. Se afaste dele Dra. Sophia. Você estancou a pressão interna e a hemorragia do híbrido. Seu trabalho com ele hoje, acaba aqui. Vamos prepará-lo para a catalepsia induzida, os pais dele já estão a caminho. Temos que preparar o corpo... Você ficará encarregada de cuidar da mãe e do pai do garoto... Não podemos mais recuar daqui para frente... – concluiu, pondo fim ao diálogo.
Sophia saiu da sala, deixando Michel para trás. Se preparou e uns 20 minutos depois encontrou a mãe do garoto no saguão da clínica. A mulher, com quem Sophia já tinha tido contanto antes, estava visivelmente arrasada e dirigiu-se a médica, num tom inquisidor. Deu-lhes a súbita notícia da morte de Michel. A mãe entrou em desespero. O pai não segurou o pranto, abraçando a esposa.
Quando os pais do garoto se acalmaram, permitiram-lhe ver o filho pela última vez. Michel estava deitado na cama. Parecia estar simplesmente dormindo. A mulher se aproximou do filho e debulhou-se em lágrimas; deitou com ele na cama, afagou-lhe a face gélida, e tomou no braço o corpo inerte e sem vida. O homem de aparência forte sentou ao pé da cama onde jazia o corpo de seu filho, chorando, enquanto contemplava sua mulher se despedir do garoto... O dia cessou triste e silencioso naquele dia... Era o nascimento de um novo começo para a família e para, o agora oficialmente morto, Michel...
TRÊS DIAS DEPOIS
No dia do meu próprio funeral eu não estava lá. Estava sim, morto, mas não dentro do caixão encomendado para mim, que nesse exato instante estava sendo ocupado por um outro jovem usurpador do meu triste fim. Será que meus pais estavam chorando por mim? Será que meus colegas foram ao meu enterro? Ou será que em meio à tamanha dor, algum deles sentia que eu não tinha de fato partido?
Essa história começou não me recordo bem onde... Mas lembro-me de desejar morrer para que meus pais pagassem pelos meus pecados, como se fossem os dele. Pobre mulher a minha mãe. Sentia e sabia que estava com um buraco no peito pela perda do filho, pela minha perda. Não sentia mais o tempo-espaço agindo sobre meu corpo. Nos próximos meses passaria por uma bateria de testes para fazer meu corpo chegar aos extremos da resistência humana. Fui mantido em catalepsia induzida, guardado há sete chaves em uma das câmaras secretas no subsolo da clínica de reabilitação, enquanto meu funeral prosseguia.
A marcha fúnebre tocava suave e lúgubre. Os pais do jovem acompanhavam de perto o caixão, com uma bela coroa de flores em cima. A mãe estava abatida e inconsolável. O pai estava tirando forças de algum lugar longínquo para suportar a dor sem ceder. Colegas e amigos acompanharam o cortejo adentrando pelo cemitério. Pararam diante da sepultura aberta. O caixão foi posicionado. A mãe do menino desabou em lágrimas. Estava tudo acabado e aquele era o último ato que prestaria ao filho. Fizeram a última prece. Uma música instrumentada começou a tocar, lentamente, acompanhando o ritmo da descida do caixão. Jogaram rosas brancas. A doutora Sophia se aproximou da sepultura e lançou sua rosa vermelha, que caiu em cima da coroa de flores, onde uma faixa dourada dizia “descanse em paz filho amado”.
- Descanse em paz HW156... – sussurrou baixinho.
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Cristian Chocolath