Capítulo III
A Rodovia e o Barranco
Eles estavam montados em suas bikes. O vento tocando os rostos daqueles corações indômitos, sedentos por adrenalina. Pedalavam freneticamente pela rodovia, movimentada, disputando e perseguindo os carros, numa corrida alucinantemente perigosa. Mas aqueles dois não se importavam com o perigo. O perigo era um amigo íntimo...
- Qual a situação? – perguntou o médico que havia acabado de entrar na sala.
- Algumas fraturas. Traumatismo craniano; luxação do ombro direito e a tíbia e fíbula da perna direita estão quebradas. O paciente está estável. – disse uma linda médica, que estava ao lado do corpo de um jovem garoto na mesa de cirurgia.
- Como isso foi acontecer Sophia? – perguntou o doutor de meia idade, austero.
- Não sei, senhor, mas a tabula aeris e toda estrutura da coluna vertebral estão preservadas – respondeu ela.
- Ótimo. Espero que isso não se repita. Ele é a parte vital do nosso programa. Suture o corte na cabeça e restaure os ossos da perna. O ombro deslocado conserte depois, com o híbrido acordado... Um pouco de dor o ajudará a ser mais cuidadoso daqui para frente... – dizendo isso, saiu.
- Sim, senhor. Mais luz aqui, por favor... – disse Sophia.
Uma luz muito forte ofuscou a visão dos dois ciclistas. Um deles perdeu o controle e foi parar no barranco da avenida. A bicicleta rolou descida a baixo, enquanto o jovem escorregava. O segundo largou a sua bike a esmo na estrada e foi socorrer o amigo.
- Caralho, você tá bem? – perguntou o jovem, exasperado, tentando ajudar o amigo, todo ralado.
- AIII! Seu filho da puta, tá doendo, não mexe... – disse o garoto esfolado, advertindo ao amigo para não tocar seu joelho, que estava estourado e sangrando.
- Foi mal, porra! – o jovem que oferecia ajuda começou a rir – Você está todo esfolado. Afs, tu precisa ver, foi muito louco o jeito que tu caiu no barranco...
Os dois riram muito juntos, sentados lado a lado no barranco na beira da rodovia. Pararam de rir e ficaram em silêncio. Um clima pesado recaiu sobre os dois.
- Vamos embora? Tu precisa cuidar desse joelho... – disse o jovem ao amigo machucado.
- Não! Vamos ficar mais um pouco... – interpelou, para que ficassem; o garoto machucado deitou-se, observando o céu escuro – Olha o céu como tá cheio de estrelas.
O jovem deitou-se ao lado do amigo e olhou o céu. Estava muito estrelado, com estrelas que pareciam estar ao alcance das mãos...
- Michel?
- Hum?
- Como vai ser quando eu for embora? – disse o jovem ralado, olhando o amigo ao seu lado, um sorriso maroto e melancólico nos lábios.
- Porra! Não sei... Não quero pensar nisso... – disse Michel, olhando nos olhos castanhos do amigo. – Mas você não vai embora, caralho! Eu não vou deixar... – disse, sorrindo.
O silêncio só não foi maior entre os dois devido ao barulho dos carros e carretas que passavam pela rodovia logo acima. A brisa tocou suave a encosta, onde de mãos entrelaçadas os dois jovens celebravam, sem saber, o desfecho de, sua longa e duradoura amizade...
Me arrependi de nunca ter dito aquelas três palavras que eu queria tanto dizer. Estava novamente em meu leito. Sophia estava ao meu lado. Agora sabia o nome dela. O toque dele era na verdade o dela. Ao acordar, ela é quem segurava minha mão...
Música Tema: Chasing Cars - Snow Patrol
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Cristian Chocolath